Mourão e Guedes disputam com Olavo e chanceler embaixada nos EUA

O racha interno no Planalto parece ter tomado proporções internacionais. De um lado, Olavo de Carvalho e o chanceler Ernesto Araújo, do outro, o vice-presidente Mourão e Paulo Guedes. A disputa de força da vez é para emplacar um nome na embaixada brasileira em Washington, nos Estados Unidos (EUA). O primeiro grupo apoia o nome do diplomata de 2ª classe, Nestor Forster. O outro lado defende o nome do advogado, jornalista e cientista político, Murillo de Aragão.

Aragão tem bom trânsito no Planalto com os militares e sempre esteve presente nos bastidores auxiliando governos anteriores como membro do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social da Presidência da República (CDES), criado pelo governo de Luiz Inácio Lula da Silva e esvaziado durante o governo Dilma que não tinha aptidão para o diálogo com atores do processo decisório como Congresso e sociedade civil organizada.

Aragão continuou transitando no Planalto durante o governo de Michel Temer, com o qual tem uma relação pessoal amistosa e compartilha de ideias convergentes sobre temas de cunho nacional. Ele é sócio fundador da Arko Advice, uma das principais consultorias política do País, que detém uma carteira de clientes nacionais e internacionais de diversos segmentos como: Tecnologia da Informação, Financeiro, Minas e Energia, Aviação Civil, entre outras.

Em momentos de turbulências políticas e econômicas, Aragão traça cenários e análises sobre o processo decisório brasileiro, acalmando investidores estrangeiros, uma das virtudes que o credencia como potencial nome para assumir a embaixada como um nome mais alinhado à visão liberal do ministro da Economia, Paulo Guedes. Pesa contra ele ser um nome de fora do Itamaraty e um eventual conflito de interesse devido ao trabalho que desempenha, tendo que se desvincular da consultoria, caso venha a ser escolhido.

Mas, Forster ganhou força nos dias que antecedem a viagem do presidente Jair Bolsonaro aos EUA. Por ser de carreira diplomática e ser quem apresentou o escritor Olavo de Carvalho ao presidente, ele tem a simpatia do chanceler Ernesto Araújo, que garantiu a presença do diplomata no jantar que ocorrerá na chegada de Bolsonaro em solo americano, no dia 17 de março, na casa do atual embaixador brasileiro nos EUA, Sérgio do Amaral, que está de saída. Pesa contra Forster ser um diplomata de segunda classe, tendo que ser promovido à primeira classe para se credenciar ao cargo, fato que ocorrerá apenas no final do primeiro semestre.

Para a economia brasileira e o Planalto, o dilema é ainda maior. A escolha pode refletir no caminho que o Brasil deve seguir nos próximos quatro anos, e mostrará qual grupo, de fato, tem mais influência no governo Bolsonaro: os militares e Guedes, ou os chamados Olavistas.

O primeiro grupo tem um viés mais liberal em relação ao modelo econômico, prezando as relações comerciais. Já o grupo de Olavo de Carvalho tem uma linha mais conservadora e protecionista, ao estilo Donald Trump.

Em que pese o desejo de Bolsonaro de demonstrar seu alinhamento ideológico com Trump, vale ressaltar que o momento econômico de Brasil e EUA são bem distintos. A economia brasileira, ao contrário da americana, não pode se dar ao luxo de fechar as portas para o mercado internacional criando barreiras em vez de pontes. Pelo contrário, precisamos de acordos comerciais que torne o país mais competitivo perante as economias concorrentes, e atraentes aos olhos dos investidores estrangeiros.

As reformas estruturais que estão em tramitação no Congresso Nacional são imprescindíveis para trazer de volta essa credibilidade. O que indica que o Planalto precisa de alguém que tenha esse poder de traduzir o complexo processo decisório para o mercado internacional e tenha uma simpatia maior pelo liberalismo, em detrimento do protecionismo, atraindo investidores estrangeiros para alavancar o Produto Interno Bruto (PIB).

O ingresso como membro na Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) é uma prioridade hoje para o Brasil, que no ano passado sofreu grande resistência do governo norte-americano, que defendia o ingresso dos argentinos. E Bolsonaro sabe que precisará de Trump para isso. Mas, também precisa dos investidores para alavancar a economia brasileira.

Fica o questionamento então de quem é melhor agradar: Trump, com uma indicação ideológica antiglobalista como a de Olavo, Ernesto e Forster; ou aos investidores estrangeiros, com alguém com o viés mais liberal, voltado para a captação de investimentos, como defendem os militares e Guedes ao indicar Aragão?

Não se descarta, porém, a possibilidade de uma terceira via. Alguém mais experiente e neutro dentro do Itamaraty, que minimize o racha interno no governo, ou pelos menos não desagrade ambos os lados de forma desigual.

A expectativa é que o anúncio seja feito durante a viagem de Bolsonaro aos EUA. A Casa branca também encontra dificuldades para achar um nome de consenso para assumir a embaixada norte-americana no Brasil no lugar do embaixador interino, William Popp, que assumiu após a saída de Michael McKinley, no ano passado.



Jose Mauricio dos Santos
Autor: Jose Mauricio dos Santos
Jornalista, Cientista Político e especialista em Marketing Político.

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